Consumo de mídia e pandemia

Consultor reflete sobre comportamento, conceitos e posicionamento durante período de isolamento social

| EPTV -

No início de março, antes de começar a quarentena em decorrência da Covid-19 no Brasil, o estudo "Inside TV" já apontava que o consumo de TV diário aumentou 34 minutos em cinco anos e saltou de 06h07 em 2018 para 06h17 em 2019. Dias depois, foi decretado o isolamento social pelas autoridades e as pessoas se reuniram na frente da TV para se informar sobre a doença, entender o que está acontecendo e também se entreter. O consumo diário do conteúdo televisivo durante a primeira semana de isolamento social, entre os dias 16 e 22 de março, apresentou um aumento de 41 minutos na média. Já aos finais de semana, o aumento foi ainda mais significativo: 1h26. 

A casa se tornou o espaço para a realização de todas as atividades e os meios de comunicação, como TV e rádio, reafirmaram sua importância, se fortaleceram ainda mais e expandiram para os canais digitais, onde suas pautas de saúde, política e entretenimento rendem assunto e mantém vivo o Twitter. Mantém vivo o Twitter, pois 97% da rede social é recheada de conteúdos da TV, de acordo com dados da Kantar IBOPE Media. Durante a quarentena, o BBB 20 se tornou o novo futebol dos brasileiros, as novelas "Vale a Pena Ver de Novo" protagonizaram o horário nobre e o Jornalismo se tornou fonte confiável em meio às Fake News disparadas em grupos nas redes sociais. 

Diego Oliveira, consultor e CEO da Youpper Consumer & Media Insights, destaca que desde então as pessoas tiveram a oportunidade de repensar e também de ressignificar muitos aspectos da vida e do seu comportamento. "Todos se permitiram viver uma 'newstalgia', que é rever um jogo de futebol ou novela dos quais já sabemos os resultados. Voltamos a assistir campanhas publicitárias na televisão com as famílias reunidas e perceber o resgate de valores importantes da sociedade", destaca o consultor. 

Diego Oliveira, CEO e fundador da Youpper Consumer & Media Insights

Diego comenta sobre a relação dos espectadores com os meios durante a quarentena e como tem visto o fenômeno no momento. "As pessoas questionavam o meio rádio, por exemplo, e é um dos meios mais consumidos para se informar e ouvir música. Os meios rádio e TV possuem curadoria, credibilidade e contam com seu público cativo conquistados através de suas respectivas marcas e conteúdos, independente da plataforma". 

A aceleração da Transformação Digital permitiu que os meios clássicos expandissem sua presença e facilitasse que o conteúdo chegasse a todas as pessoas e em todos os cantos do país de forma rápida, apesar de a crise do novo coronavírus estampar o retrato de um Brasil que pouco se fala no exibicionismo das redes sociais e que é mostrado na TV todos os dias: a população que não tem acesso à saneamento básico e água. Em 2018, cerca de 104 milhões de brasileiros viviam com R$ 418 por mês, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua publicada em outubro de 2019. "Temos muitos 'brasis' dentro de um Brasil e com realidades completamente diferentes que devem ser consideradas pelas marcas. Ao mesmo tempo que temos uma realidade de a TV ser o assunto mais comentado no twitter, temos também uma população que não tem internet banda larga e espera o boa noite do Bonner para se informar e está adorando rever a novela Fina Estampa", comenta. 

Em relação às marcas, o consultor explica que é o momento de marcas mostrarem racionalidade e empatia. Segundo ele, a publicidade está além do simples ato de vender e os conceitos que se falavam antes da pandemia, a exemplo da experiência de consumo, se fortalecem. "Muito se falava em experiência de consumo. Agora é a hora de as marcas mostrarem propósito, humanismo e verdade. É a oportunidade de as marcas se tornarem mais presentes e ressignificarem as novas intenções de compras que devem surgir". 

Novo normal? O termo parece ter se tornado a nova manchete, porém Diego Oliveira ressalta que o que vem após a quarentena pode ir além de um novo normal. "Muito difícil dizer como será o cenário pós-pandemia. O que se sabe até agora é que haverá uma crise econômica, mas prever com certeza o que se deve acontecer é mais difícil. Não foi ensinado na escola e em nenhuma cartilha como lidar com o que está acontecendo agora. O momento é de muitas perguntas e poucas respostas".