Pandemia: a prova de que as pessoas mudam

Por Alexandre Prado

| EPTV -


Ah! Só pra lembrar, pessoas são consumidores, viu?

Se você é daqueles que acreditavam que as pessoas nunca mudam, aposto que nunca havia passado por uma pandemia antes, mais ou menos como toda a população mundial da era moderna.  

A COVID-19 veio, não só para provar que as pessoas mudam, mas para mostrar que elas mudam muito. Todos estamos virando comunicadores por excelência, e quem não o fizer estará fadado a um isolamento ainda maior do que eu social, estará condenado ao isolamento das ideias, pois cada vez mais as plataformas de comunicação tem se tornado a linguagem universal, encampando ou substituindo o bom e velho bate-papo presencial até então dominante por milênios nas relações humanas. 

E com essa mudança não é apenas a forma de se comunicar que foi bruscamente alterada, mas também a forma de consumir ideias produtos e serviços. Pessoas que só queriam viver dentro de casa, agora clamam por uma oportunidade de sair, fazer uma caminhada com o cachorro e voltar; enquanto outras que viviam pelas ruas precisam se adaptar a ver sua casa como seu novo local de trabalho, fonte de lazer, lugar de recolhimento, meditação, introspecção e não mais apenas um abrigo onde comer e dormir enquanto se espera um novo dia para se explorar lá fora. 

Nesse novo cenário, em que mudamos? Em praticamente tudo. Em nossa forma de ver a vida, no valor que damos às coisas do mundo, no valor que damos às pessoas, aos pensamentos, aos detalhes do cotidiano e a tudo mais. Os carrões que agora só enfeitam a garagem e ninguém mais vê, a roupa da moda e da última estação que não pode ser exibida para inflar o ego dos mais vaidosos, aquele sapato caro que não faz sentido usar pra si mesmo, o perfume importado que ninguém mais está por perto para sentir, tudo isso mudou de significado durante a pandemia e ninguém garante que voltará a ser visto como antes, ao menos pelo mesmo número de consumidores. E as pessoas começaram a reavaliar a necessidade real do consumo, dos preços e valores em todos os segmentos de mercado. 

Surge o maior desafio que o capitalismo moderno já enfrentou: o desafio da importância. Não entenda aqui importância apenas como relevância, mas sim como "aquilo que de fato quero importar para dentro de minha vida", do meu cotidiano, dos meus pensamentos, do meu tempo, da minha energia e de minhas emoções. O grande desafio das marcas e empresas não é mais o de comunicar com eficiência, mas sim o de fazer com que essa comunicação leve ao consumidor aquilo que de fato é "importável" para sua nova realidade, sua nova forma de ver o mundo. 

Marcas e empresas que não investirem profundamente na compreensão da nova mentalidade do consumidor em todos os segmentos de mercado se decepcionarão e afundarão invariavelmente, acreditando que os consumidores voltarão ao mercado com o mesmo comportamento e no mesmo volume de antes em relação a seus produtos e serviços, após a pandemia.  

Agências de publicidade, veículos de comunicação, imprensa, empresários, formadores de opinião, influenciadores, todos precisam tomar consciência urgentemente de que daqui para frente o segredo da comunicação está cada vez mais na inteligência estratégica da comunicação e cada vez menos na muleta das produções caras, de altíssima qualidade, criativas, com design inovador, mas que não transmitem ao consumidor uma percepção de importância real em suas vidas (na maioria das vezes porque não tem) no que diz respeito aos produtos serviços ou marcas que vendem. 

Em resumo, se a humanidade caminha para valorizar as pessoas que têm beleza interior e cada vez mais ignoram aqueles que vivem apenas das aparências, no mercado, nas relações de consumo isso já é uma realidade; isso é o novo normal.   

Alexandre Prado é publicitário, bacharel em comunicação social pelo Centro Universitário do Sul de Minas, UNIS (instituição nomeada pelo próprio enquanto cliente), consultor de Marketing; atuação como criativo em agências; atuação como criativo em emissora de TV; há 18 anos diretor da Realize Propaganda; palestrante; ministra treinamentos motivacionais e de comunicação empresarial e marketing; atuação como professor universitário de redação publicitária e marketing de Serviços; ilustrador; e gestor de Marketing no Plano de Saúde Serpram.