Comunicação e tecnologia
A integração entre a razão e a emoção
O CEO da agência Raccoon, André Palis, enxerga a corrida pela transformação digital, durante a pandemia, como um provável risco às empresas. "As coisas feitas com pressa podem resultar em trabalhos mal feitos. Não é sair colocando mais tecnologia nos negócios e, sim, entender que o consumidor e as interações serão mais digitais. Por isso, cada empresa tem que desenvolver a sua estratégia dentro da sua realidade. A transformação tem que ser de forma sistêmica e a liderança precisa adquirir maturidade".
O também sócio da agência House of Hagens, Leo del Castillo, acredita que entender o futuro da comunicação é mais fácil e natural para quem está começando a empreender. "A visão inovadora das startups, em aprimorar os processos de mercado e as experiências dos usuários, é fundamental para qualquer empresa atual. Essa é a diferença de quem vai viver ou morrer nos negócios."
Leo acrescenta que a House of Hagens vem atuando nessa transformação de pensamentos e adaptação de seus clientes, para que eles ainda sejam relevantes no futuro e saibam conversar com o consumidor. "Um dos nossos papéis é auxiliar nessa transformação digital dos nossos clientes que podem parecer dinossauros, afinal, é para eles que estamos tendo uma vantagem brutal", conta ele.
Cada geração adota os desenvolvimentos da anterior e os estendem. Dessa forma, em um espaço de tempo cada vez mais curto, aumenta-se a complexidade dos avanços tecnológicos. Para quem está há mais de 20 anos trabalhando na área de comunicação, como José Alves Neto, partner da House of Hagens, já entendeu a importância de se adaptar. "Eu surfei o off-line até a última ondinha. Chegou em um momento que eu vi que essa chave para o digital tinha que ser virada ou eu estaria em um mercado extremamente reduzido e fadado ao fracasso", aconselha Neto.
Para André Palis, o mercado era fragmentado e as pessoas buscavam por empresas especialistas. Agora, a inter-relação das áreas aumentou. "O futuro é integração. No ponto de vista do marketing, eu aconselho a continuar aprendendo e desenvolvendo múltiplas habilidades, pois o conhecimento técnico de hoje, pode não ser suficiente para amanhã", pondera o CEO da Raccoon.
O que há em comum no discurso e também no posicionamento da Hagens e da Racoon é que ambas as agências traçaram como um dos objetivos unir o melhor da tecnologia com o melhor da criatividade. Anos atrás, Neto reuniu sua vasta experiência em agência tradicional e buscou no mercado parceiros que pudessem acelerar a "Transformação Digital" para oferecer mais ao mercado publicitário. "Eu procuro entender e estudar, cada vez mais, além de aprender com as experiências dos meus sócios e, assim, me encaixar na área em que eu mais domino, que é a área da narrativa".
Já André Palis "se rendeu" à área de humanas e montou um time com mais de 120 profissionais da comunicação, formando uma empresa diversa. A empreitada mais recente foi a fusão com o grupo S4 Capital, a holding de publicidade digital de Martin Sorrell, que levou a Raccoon para um novo patamar da publicidade brasileira. A fusão entre os grupos representa um aumento de capacidade e talentos no Brasil e no mundo, em busca de ajudar marcas a prosperarem na nova era do marketing digital. "Acreditamos que vamos aumentar ainda mais as nossas operações. A fusão com a S4 foi perfeita porque trazemos uma parte de capacidade e performance forte com valor 360º que a S4 busca desenvolver na América Latina e, por outro lado, eles têm muitas habilidades e pessoas no mundo inteiro na frente criativa e na frente de coletas de dados", comemora André.Um mundo de opções
O desafio da integração também é uma dor do anunciante. Nunca foi tão fácil se comunicar com o seu cliente, são inúmeras plataformas e canais, mas é aí que o perigo mora. Muitas são as empresas que alavancaram tantas opções que seus consumidores simplesmente se afogaram em tantas informações.
Os representantes do setor de comunicação do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), localizado em Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, região considerada "Vale da Eletrônica", dedicado à formação de profissionais no setor de Telecomunicações e Tecnologia, têm apostado nas mídias clássica e no marketing de conteúdo para impactar o seu público.
Mirella Silva da Silva, coordenadora da Comunicação da Inatel, explica que o futuro da comunicação, ao contrário do que muitos pensam, não depende da presença da marca em todos os canais disponíveis. "Eu escolho pela mídia que retorna os melhores resultados para a minha persona. As agências que conhecerem as possibilidades reais de divulgação saem na frente".
Segundo a coordenadora do Inatel, todas as ações digitais do Instituto são baseadas no tagueamento (identificação) dos consumidores. "Criamos ferramentas que nos ajudam a acompanhar campanhas, sempre buscando possibilidades de instigar mais os nossos clientes e trazê-los para mais perto", comenta Mirella.
Uma das maiores mudanças na comunicação, na última década, foi a ascensão dos conteúdos em vídeo e áudio na internet. Um novo estudo da Kantar Ibope Media mostra que 99% dos brasileiros assistiram à TV, plataformas de streaming e lives no ano passado em diversos dispositivos. A tecnologia utilizada para gravar esses conteúdos também tem crescido em qualidade e se tornado acessível. Diante de tudo isso, Mirella completa dizendo que o branding é perene, ou seja, fundamental para construir uma imagem da marca que demonstra relevância e confiança no mercado.
O futuro da comunicação é muito plural. Mas, olhando para o agora, é certo que o ser humano irá criar, cada vez mais, tecnologias automatizadas para potencializar as diferentes tarefas. Ainda que incipiente para a grande maioria das empresas, a adoção da Inteligência Artificial será positiva para o desenvolvimento dos negócios, principalmente no que se refere a automação de algumas atividades, assistentes de voz, por exemplo. Eliane El Badouy Cecchettini, professora universitária e consultora, destaca que os buscadores de pesquisa em voz, o "search voice", vão se tornar cada vez mais relevantes e devem ser considerados no mundo dos negócios, principalmente no mercado publicitário, indústria que busca a todo o momento formas de conectar marcas e público-alvo. "Os assistentes de vozes vão ganhar ainda mais presença na vida dos consumidores e serão verdadeiros cúmplices em tudo que as pessoas fazem. Por isso, os profissionais que são dark social vão acompanhar este crescimento, pois os dark social são responsáveis por mapear comportamentos e tendências em nichos que são muito específicos e mais complexos de serem mapeados, a exemplo de grupos de aplicativos".
Os dispositivos móveis e smartphones não apenas transformaram as comunicações pessoais como a produtividade nos negócios. Consequentemente, a Internet das Coisas (IoT) dominará o cenário tecnológico, fazendo parte da integração, em que os mais diferentes objetos se conectem à internet e interajam com ela. Um estudo da Frost & Sullivan realizado em 2019 revelou que a expectativa era de que o Brasil deveria faturar US $2,2 bilhões com esse mercado no ano que passou, o que representa cerca de 45% de toda a América Latina.
As tecnologias de comunicação deram um número grande de reviravoltas, com uma ampla variedade de serviços, protocolos e configurações sem fio desenvolvidos e implantados. Os empreendedores que não se atualizarem perderão mercado para empresas que irão usufruir dos benefícios da tecnologia.
Em meio a tantas transformações, ser relevante é um desafio diário. As respostas são especialidades da Inteligência Artificial, mas as perguntas para os problemas é que dão pistas para as soluções. "Como eu posso ser relevante em um mundo onde o meu conhecimento torna-se obsoleto é uma das perguntas que as pessoas e marcas precisam se fazer", acrescenta Eliane El Badouy.