Varejo brasileiro: como a pandemia alterou o cenário de vendas
Pontos estratégicos que podem ajudar o empresário a pensar, aplicar e reinventar seus negócios
Neste dia 12 de novembro é comemorado o Dia do Supermercado, setor que vem crescendo ao longo da pandemia. Com as medidas de segurança adotadas, como o isolamento social, novos hábitos de consumo e de convívio coletivo foram introduzidos na sociedade. O fechamento de lojas, principalmente do setor alimentício, possibilitou que as pessoas procurassem por novas experiências.
Nos primeiros meses da pandemia, março e abril, o consumidor foi menos vezes ao supermercado. O estudo Insights do Varejo, realizado nesse período pela Dotz, empresa de pontos de fidelidade, mostrou que houve uma queda de 18% no número de clientes em lojas em comparação ao período antes da quarentena. A pesquisa também apontou que com menos idas ao mercado, o consumidor gastou mais a cada compra, tendo um aumento de 35% no tíquete médio. Em relação aos demais meses, o estudo feito pelo IBGE divulgado em outubro mostra que o setor teve o terceiro melhor desempenho em vendas do varejo. Os supermercados tiveram alta de 6,7% nos primeiros oito meses de 2020 se comparado ao mesmo período do ano passado.
Segundo a Kantar IBOPE Media, os novos hábitos adquiridos pelos consumidores e que tendem a permanecer pós-pandemia estão relacionados à higiene pessoal, alimentação saudável e a opção de evitar aglomerações. Na hora de escolher o melhor local para realizar a compra, o pequeno varejo e o tradicional ganharam um grande destaque. Os dados da Kantar revelam que 60,2% dos consumidores buscam por locais com poucas pessoas. Já 59,6% afirmam optar pelo comércio mais perto da residência, além de se preocuparem com o cumprimento das medidas sanitárias (47,8%) e o fato de não ter filas para entrar (44,9%).
Produtos mais vendidos
Sobre o aumento na procura de alimentos mais saudáveis, uma enquete da Organis, entidade de promoção de orgânicos, realizada no mês de setembro, aponta que o consumo de orgânicos aumentou 44,5% durante a pandemia. Em contrapartida, o aumento de bebidas alcoólicas também cresceu. Informações compiladas e analisadas pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-RS) revelam um que as vendas de vinhos brasileiros aumentaram 39% nos quatro primeiros meses deste ano, em relação ao mesmo período em 2019. Há também uma forte tendência em produtos de perfumaria e higiene. De acordo com a Associação Brasileira de Indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosmético (Abihpec), as vendas de sabonete líquido e em barra, papel higiênico e lenços de papel cresceram 21%.
Novas tendências para o varejo de alimentos
A Kantar IBOPE Media também apontou em estudos que o comércio eletrônico ganhou espaço na preferência dos consumidores. Entre os respondentes brasileiros 68% dizem que os apps de entregas em domicílio os satisfazem totalmente no quesito velocidade, 63% na facilidade de uso, 64% na qualidade dos produtos e 77% na facilidade de pagamento. Compras por telefone ou WhatsApp e em sites ou aplicativos de supermercados também foram avaliadas. O delivery foi uma das maiores tendências. O sistema ganhou 38% de novos usuários no primeiro trimestre de 2020 em comparação com o segundo trimestre de 2018.
Cada vez mais, a base dos negócios é o digital. Pensando nisso, lojas, produtos e serviços, transações de pagamentos, estoque e distribuição, entrega, programas de fidelidade e eficiência tecnológica se uniram para promover um SuperApp, tecnologia que possibilita encontrar toda cadeia de produtos em um único aplicativo, facilitando para o cliente na hora da busca. Os líderes dessa estratégia no Brasil são o Mercado Livre e o Magazine Luiza, sendo autênticos varejistas. O iFood também é uma das empresas que têm adotado esse conceito.
Outra marca que também se destacou foi a P&G, que aumentou seus investimentos em marketing em pelo menos US$ 100 milhões no último trimestre. A empresa diminuiu suas despesas gerais, mas investiu essa economia de volta em marketing.
Levantamento da Brave New Retail 2020 mostra que 72% dos pesquisados consideram que apesar de tudo vir a ser super digital, a centralidade na natureza humana e na questão relacional do consumo continuará como principal valor do varejo, ou seja, a atividade continuará a ser dirigida por humanos. Haverá uma necessidade de uma relação humana cada vez mais forte nos processos transacionais/comerciais, mesmo com a tendência de hiper-digitalização, que foi amplamente experimentada após o isolamento social.
O consumidor está mais sensível e preocupado com ação das marcas nesse momento, esperando por um claro posicionamento das empresas quanto às campanhas de responsabilidade social e ao combate à Covid-19. Os consumidores acham que é papel das marcas ajudarem na conscientização das pessoas nesse momento. Os varejistas precisam pensar em medidas e parcerias de sustentabilidade reais e, assim, manter um relacionamento duradouro para que, juntos, a crise seja superada.
EXPERIÊNCIA DO CONSUMIDOR
Como estão indo a menos lojas, os shoppers têm preferido as que proporcionam maior segurança e compras mais rápidas e produtivas. Os novos comportamentos significam oportunidades para o varejo incluir produtos na cesta de compras do shopper, inclusive de maior valor agregado. Confira:
01. FAÇA VOCÊ MESMO
Desde que a pandemia se instalou no Brasil, ganhou força um movimento de autocuidado por parte dos consumidores. Muitas pessoas recorreram ao Do It Yourself (DIY), o famoso faça você mesmo.
02. RETOMADA PELA BUSCA POR BEM-ESTAR
No início do período de isolamento, o consumidor privilegiou produtos de higiene básica, como os sabonetes. Porém, desde que ficou claro que a pandemia duraria mais tempo, o cenário passou por uma transição e as pessoas começaram a se preocupar mais com o bem-estar e a autoestima.
03. COMPRAS MAIS PLANEJADAS
Os consumidores estão ensaiando mudanças de hábitos e preferências com compras mais planejadas, que incluem o meio digital como alternativa às lojas físicas.
04. VALORES INDIVIDUAIS DO CONSUMIDOR GANHAM PESO
O estudo "O novo consumidor pós Covid-19", realizado pela consultoria McKinsey, revela que a maior preocupação com a sustentabilidade será um dos legados deixados pela pandemia. A principal transformação é que "ser sustentável" deixa de ser um conceito abstrato para se tornar critério importante na escolha.
05. NOVOS CANAIS DE VENDAS
Na avaliação da Abihpec, o aumento da compra de produtos por meio de canais digitais e-commerce, WhatsApp, entre outros deve permanecer.
06. VALORIZAÇÃO DE ITENS ESPECÍFICOS
Forte tendência por produtos específicos para cada necessidade muito específica.