O Publicitário precisa ser antes de tudo um Antifrágil

Eliane El Badouy Cecchettini, Badu

| EPTV -

Recentemente nosso mercado foi chacoalhado com a notícia, já aguardada há algum tempo, de que a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) pediu, por unanimidade da diretoria, seu desligamento do Conselho Executivo de Normas-Padrão (CENP).   

Em paralelo, um outro ponto de atenção, embora controvertido, também passou a incomodar as agências e seu clássico modelo de negócio. O conceito "Betterinside" tem feito brilhar os olhos dos anunciantes para retomada das houses e ascensão crescente das in-houses. 

Agências in-house, House Agencies ou mais popularmente chamadas só de Houses são estruturas presentes em empresas e operam simulando a operação de uma agência de comunicação tradicional, mas na prática atuam como um departamento fornecedor interno, funcionando dentro da própria estrutura física e atendendo exclusivamente à empresa na qual se encontra fisicamente instalada. 

As empresas, em todas as suas mais diversas áreas, incluindo o marketing, estão buscando trabalhar cada vez mais com a dinâmica de squads, desenvolvendo soluções de maneira mais colaborativa e econômica, usando conceitos como Lean Thinking - visão de processos que otimizam o fluxo de valor para o cliente data-driven e mindset ágil, que facilitem as atividades da empresa com dinâmicas alternativas, práticas mais adaptáveis, estruturadas em ciclos curtos de prazo com entregas mais rápidas, frequentes, eficientes e flexíveis. 

Para se ter uma ideia, segundo levantamento da ANA - Association of National Advertisers, 92% das empresas ajustaram suas mensagens criativas em função da Covid-19. Dentro deste universo, 55% confiaram a tarefa às agências in-house, enquanto apenas 26% a deixaram nas mãos de agências tradicionais e os outros 19% foram para equipes internas. 

Seria essa a tempestade perfeita para impactar de maneira significativa o já bastante golpeado mercado publicitário assim como os profissionais que trabalham na área? 

É fato que estamos sendo testados e passando por provações e desafios a todo tempo e de todos os lados. E também, é fato que desafios são essenciais para todo e qualquer aprimoramento. Há tempos não éramos tão desafiados como nos últimos anos. Estamos diante de um dos desafios mais relevantes: planejar o nosso amanhã. Devemos desenvolver um modelo de pensamento para reverter uma crise a nosso favor. 

E isso significa ser Antifrágil. Esse conceito foi criado pelo autor libanês Nassim Taleb autor do livro "Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos" e do livro "A lógica do cisne negro: O impacto do altamente improvável". 

A antifragilidade nos faz entender melhor a fragilidade. Assim como não podemos melhorar a saúde sem reduzir as doenças, ou aumentar a riqueza sem primeiro diminuir as perdas, a antifragilidade e a fragilidade são graus em um espectro. A antifragilidade está além da resiliência ou robustez. O resiliente resiste a choques e permanece o mesmo; o antifrágil fica melhor, se beneficia e prospera diante dos impactos, do acaso e de agentes estressores. Antifrágeis crescem e se fortalecem com a volatilidade e o estresse (até certo ponto), se alimentam do caos e da incerteza. Taleb compara a antifragilidade à Hydra de Lerna da mitologia grega, um monstro horrível com várias cabeças. Sempre que um heroi cortava uma das cabeças da Hydra, duas voltavam a crescer em seu lugar e ela se tornava mais forte com a adversidade. 

Por isso resiliência e robustez não são o mesmo que antifragilidade. A antifragilidade é capaz de evoluir diante dos impactos.
A postura antifrágil atua como combustível para o aprimoramento das pessoas e das empresas. Assumir uma nova forma de olhar o futuro seguindo a visão do antifrágil, treina nosso olhar para identificar oportunidades onde elas aparentemente não existem. Precisamos aprender a usar as incertezas a nosso favor e ter em mente que todo desafio é matéria-prima para conquistas maiores. Afinal, a inconstância é algo próprio e natural da vida e dos negócios.  

Nas palavras de Nassim Taleb: "A comida não teria sabor se não fosse pela fome; os resultados não têm sentido sem o esforço; a alegria, sem a tristeza; as convicções, sem a incerteza; e uma vida ética deixa de sê-la quando é despojada dos riscos pessoais". 

* Com informações via: Meio & Mensagem, PropMark, livro "Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos" . 

Eliane El Badouy Cecchettini, Badu como é conhecida no mercado, é publicitária, pós-graduada em Marketing pela ESPM, vencedora de 2 categorias do prêmio de Mídia Estadão - Pesquisa de Mídia e Gran Prix, co-autora de 2 livros "Inovação em Sala de Aula" e "Métodos de Ensino para Nativos Digitais", fruto de seus estudos sobre comportamento e consumo de mídia dos nativos digitais. Também é colunista da Revista Eletrônica BREAK do Grupo EP e da coluna Ponto de Contato da Inova Business School. É coordenadora de Futuro e Tendências na Educação do IBFE - Instituto Brasileiro de Formação de Educadores, professora e coordenadora da Pós-Graduação de Economia Criativa, Master de Negócios de Impacto e professora na Pós-Graduação de Neuromarketing da Inova Business School. Seus mais de 30 anos de carreira foram construídos em grandes grupos de comunicação como Editora Abril, Folha de S.Paulo e Sony Enterteniment Television e agências de propaganda. Em sua trajetória profissional atendeu contas como Mc Donalds, Unilever, Johnson & Johnson, FIAT, Bradesco, L'oréal, Tetra Pak, 3M, CPFL, Souza Cruz, Internacional Paper, entre outras. É Head de Media Intelligence & Consumer Insights da Targget House, Conselheira TrendsInnovation, Associate Partner da Inova Consulting para Futuro, Tendências & Consumer Insights, além de pesquisadora do comportamento, mecanismos de atenção e do consumo de mídia contemporâneos.