A comunicação está cada vez mais high touch do que high tech

por Eduardo Soares

| EPTV -

Merchandising em "A Dona do Pedaço" mostra flexibilidade de conteúdo na TV 
Ser assertivo hoje nas estratégias de comunicação de marca é fazer uma excelente entrega para um consumidor que é preciso conhecer a fundo. Cada produto, marca ou serviço de uma empresa pode ter várias personas com quem é preciso dialogar e de maneiras diferentes. Afinal, a audiência mudou, assumiu o poder e consome o conteúdo que lhe interessa, não porque pertence a uma marca, mas porque se conecta com as pessoas. Veja, por exemplo, a estratégia de conexão de conteúdo da série Westworld, da gigante HBO com seu público. A princípio uma série apenas para aficionados em alienígenas e faroeste. Bastou um olhar mais criterioso para sua audiência e foi possível entender que lançando um trailer, com cortes onde as cenas com as mulheres poderosas da série aparecessem, e eles atingiriam fortemente o público feminino. E com um terceiro trailer, mostrando cenas de homens atuando de maneira mais dramática, atraiu um outro público interessado não só em ficção, mas em drama.
Aqui está a oportunidade de fato de marcas, negócios e serviços encontrarem um bom caminho para se conectar com possíveis consumidores: o entretenimento. É isso que as pessoas buscam diariamente, seja nas redes sociais, no rádio ou na televisão. E utilizar os dados, os números, para criar e entregar um conteúdo muito mais assertivo passa a ser uma nova oportunidade no marketing. É possível ser muito mais predizível do que previsível.  

Observem, por exemplo, a mudança na maneira de se trabalhar o tradicional merchandising atualmente dentro da novela A Dona do Pedaço, da Rede Globo. Atores e atrizes da trama estão interagindo de uma forma muito mais natural com produtos e serviços dentro (e fora da novela). No próprio roteiro, através do diálogo de personagens na novela, foi inserida a necessidade de um personagem adquirir um celular novo e a indicação de uma loja por uma outra personagem, onde chegando lá ele foi convidado a participar do novo comercial da loja, utilizando recursos até de vinhetas para o intervalo, separando a publicidade tradicional do conteúdo da novela, mas de uma forma muito mais natural, sem forçar o telespectador a interromper seu momento de entretenimento. A mistura entre conteúdo e comercial não é nenhuma novidade na TV, mas entendendo o comportamento de quem consome hoje se torna ainda mais necessário que o personagem da trama possa interagir e sair para o comercial com a mesma roupa e identidade que está na novela. Isso traz credibilidade e verdade. A estratégia está dando certo e já vem gerando comentários positivos recorrentes nas redes sociais, um excelente termômetro para repensarmos estratégias e investimentos para a publicidade da próxima década, que vem chegando por aqui daqui há apenas dois meses.  

Por isso, nunca foi tão necessário contar uma boa história para se comunicar. Histórias onde o protagonismo é do indivíduo e a marca oferece este conteúdo, como um manjar para que ele saboreie e se conecte com seu produto. Conteúdo relevante, engraçado, divertido, educativo, reflexivo, útil e informativo. Um caminho que prende o expectador do início ao fim, gerando uma conversa com a marca. Um cenário que está transformando o dia-a-dia da publicidade, através de narrativas que humanizam as marcas.
Entender que nem todo mundo é igual, tem hábitos, crenças e valores diferentes, e ao mesmo tempo também podem ser tudo, é mais que fundamental. Fazer esta leitura do comportamento é essencial. Para isso, entenda que ser criativo é estar apaixonado por problemas. Trazer para seu planejamento aquela dor do consumidor, onde é possível ajudar a resolver algo com meu produto, meu negócio, com este conteúdo, que conecte com este novo perfil de consumidor.  

E o segredo para fazer esta entrega de uma comunicação mais assertiva é ouvir mais do que falar. O consumidor 4.0 está aí. Alvin Toffler, em sua obra "A terceira onda", define este consumidor como prosumer, o produtor e consumidor ao mesmo tempo. O sucesso de modelos inovadores, como o AirBNB e Uber, não estão na tecnologia, mas sim no protagonismo das pessoas envolvido nestas ferramentas. Você quer utilizar um carro, mas quer saber a opinião de outras pessoas sobre ele. Quer alugar um apartamento, mas saber se ele é limpo, tem água quente e tudo mais. E utilizar desta sabedoria das multidões para indicar o caminho e abrir uma conversa entre marcas e empresas é muito mais high touch do que high tech. E os dados e números estão aí para ajudar quem quer ser assertivo e tornar a comunicação ainda mais estratégica e focada em nichos.  

Para um consumidor que é 4.0 ainda existem as oportunidades de criar experiências e pontos de contato da marca, já que eles não buscam apenas por um produto de qualidade, querem aprender, ver, tocar, sentir, experimentar, escolher, se divertir, comparar, ser reconhecido, levar o produto, avaliar, criticar, curtir, elogiar e recomendar. A tecnologia e o mundo real se misturam para criar estes vínculos emocionais e sociais com os clientes. A comunicação nos diversos meios é usada como canal para que esta mensagem chegue ao cliente, e a loja física aprimora essa experiência, advinda de uma boa comunicação que seja 360.  

Enfim, entender o comportamento, e porque não investir em coleta e interpretação de dados, para a criação de novas estratégias de comunicação não é mais uma aposta, mas sim um passo assertivo que vai fazer mágica no seu negócio. O futuro não está na tecnologia que afasta as pessoas, mas naquela que as aproxima e as torna ainda melhores, com conteúdo, informação e entretenimento. Experimente!

Eduardo Soares é publicitário, jornalista e Mestre em Desenvolvimento e Mídias Digitais. É vice-presidente na APP Ribeirão (Associação dos Profissionais de Propaganda), onde coordena a APP Estudantil. É Coordenador e professor dos cursos de Pós-graduação em Mídias Digitais, Marketing digital e e-commerce, Branded Content e Gestão de Negócios no SENAC Ribeirão Preto. Também é professor no curso de Publicidade e Propaganda no UniFACEF em Franca. Tem especialização em Comunicação Organizacional e Eventos e em Docência no Ensino Superior. É consultor e desenvolve projetos e pesquisa na área de transmídia, redes sociais e novas linguagens da comunicação. Também é colunista do 'Mundo Digital' na CBN Ribeirão e Revista Zumm.